Deus em três Pessoas: A Trindade

Deus em três Pessoas: A Trindade
Como Deus pode ser três pessoas, porém um só Deus?
Podemos definir a doutrina da Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.
A. A DOUTRINA DA TRINDADE REVELA-SE PROGRESSIVAMENE NAS ESCRITURAS.
1. A revelação parcial no Antigo Testamento.
A palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a idéia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa "tri-unidade" ou "três-em-unidade". É usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.
Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no Novo Testamento, e não no Antigo. Se Deus existe eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações disso no Antigo testamento. Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente no Antigo Testamento, várias passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa.
Por exemplo, segundo Gn 1.26, Deus disse: "Façamos o homens à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". O que significa o verbo ("façamos") e o pronome ("nossa"), ambos na primeira pessoa do plural? Alguns já afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: "Temos o prazer de atender-lhe o pedido". Porém, no Antigo Testamento hebraico, não se encontram outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo nessa forma de "plural majestático"; portanto, essa sugestão não tem evidências que a sustentem. Outra sugestão é que Deus esteja aqui falando com anjos. Mas os anjos não participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos; por isso a sugestão não é convincente. A melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio deus. Não sabemos quantas são as pessoas, e nada temos que se aproxime de uma doutrina completa da Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa. O mesmo se pode dizer de Gn 3.22 ("Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal"), Gn 11.7 ("Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem") e Is 6.8 ("A quem enviarei, e quem há de ir por nós?"). (Repare a combinação de singular e plural na mesma oração na última passagem.)
Além disso, em determinadas passagens uma pessoa é chamada "Deus" ou "Senhor" e distinguida de outra pessoa também chamada de Deus. Em Salmo 45.6-7(NIV), diz o salmista: "O teu trono, ó Deus, perdurará para todo o sempre. [...] Tua amas a justiça e odeia a iniqüidade; portanto, Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros ungindo-te com o óleo da alegria". Aqui o salmo vai além de descrever algo que poderia valer para um rei terreno, e chama o rei de "Deus" (v. 6), cujo trono perdurara "para todo o sempre". Mas então, ainda falando da pessoa chama "Deus", o autor diz que Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros" (v. 7). Então duas pessoas distintas são denominadas "Deus" (heb. 'Elõhîm). No Novo Testamento, o autor de Hebreus cita essa passagem e a aplica a Cristo: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Hb 1.8)
Do mesmo modo, em Salmo 110.1, fala Davi: "DIsse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés". Jesus corretamente entende que Davi se refere a duas pessoas distintas como "Senhor" (Mt 22.41-46), mas quem é o "Senhor" de Davi senão o próprio Deus? E quem poderia dizer a Deus "Assenta-te à minha direita", exceto alguém que também seja plenamente Deus? Do ponto de vista do Novo Testamento, podemos parafrasear assim esse versículo: "Deus Pai disse a Deus Filho:"Assenta-te à minha direita". Mas mesmo sem o ensinamento do Novo Testamento sobre a Trindade, parece claro que Davi estava ciente de um pluralidade de pessoas num só Deus. Jesus, é claro, compreendo a isso, mas quando pediu aos fariseus uma explicação dessa passagem, "E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo."(Mt 22.46). A menos que se disponham a admitir a pluralidade de pessoas num só Deus, os intérpretes judeus das Escrituras, mesmo hoje, não terão explicação mais satisfatória de Salmo 110.1 ( ou Gn 1.26, ou das outras passagens analisadas há pouco) do que aquela que circulava no tempo de Jesus.
Isaías 63.10 diz sobre o povo de Deus que "eles foram rebeldes e contestaram o seu Espírito Santo", dando a entender, aparentemente, tanto que o Espírito Santo é distinto do próprio Deus (é "seu Espírito Santo") quanto que esse Espírito Santo pode-se "contristar", entristecer-se, aventando assim capacidade emocionais características de uma pessoa distinta. (Is 61.1 também distingue "O Espírito do SENHOR Deus" do "SENHOR", ainda que não se atribuam qualidade pessoais ao Espírito Senhor nesse versículo.
Evidências semelhantes encontram-se em Malaquias, em que diz o Senhor: "Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros." (Ml 3.1-2). Aqui, novamente, aquele que fala (o SENHOR dos Exércitos") distingue-se do "Senhor, a quem vós buscais", sugerindo duas pessoas separas, que podem ambas ser chamadas "Senhor".
Em Oséias 1.7, o Senhor fala da casa de Judá: E os salvarei pelo Senhor, seu Deus", novamente sugerindo que mais da uma pessoa pode ser chamada "Senhor" (heb. Yahweh) e "Deus" ( 'Elõhîm).
E em Isaías 18.16, aquele que fala (aparentemente o servo do Senhor) diz: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito". Aqui o Espírito do Senhor, como o servo do Senhor, foi "enviado" pelo Senhor Deus para uma missão particular. O paralelismo entre os dois objetos de enviar ("mim" e "o seu Espírito") é compatível com a interpretação de que são pessoas distintas: parece significar mais do que meramente "o Senhor enviou a mim e o seu poder". De fato, do ponto de vista do Novo Testamento (que reconhece Jesus, o Messias, como o verdadeiro Servo do Senhor predito nas profecias de Isaías), Isaías 18.16 carrega implicações trinitárias: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito", se dito por Jesus, o Filho de deus, menciona as três pessoas da Trindade.
Além do mais, diversas passagens do Antigo testamento sobre o "Anjo do Senhor" subentendem uma pluralidade de pessoas em Deus. A palavra traduzida "anjo" (heb. mal'ak) significa simplesmente "mensageiro". Se esse anjo do Senhor é um "mensageiro" do Senhor, ele pe então distinto do próprio Senhor. Porém, em algumas passagens o anjo do Senhor é chamado "Deus" ou "Senhor" (ver Gn 16.13; Êx 3.2-6; 23.20-22 [repare "nele está o meu nome" no v. 21]; Nm 22.35 com 38; Jz 2.1-2; 6.11 com 14). Em outros trechos no Antigo Testamento "o Anjo do Senhor" simplesmente se refere a um anjo criado, mas pelo menos nesses textos o anjo (ou "mensageiro") especial do Senhor parece ser uma pessoa distinta e plenamente divina.
Um dos textos mais polêmicos do Antigo Testamento que poderia revelar personalidades distintas para mais de uma pessoa está em Provérbios 8.22-31. Embora a parte anterior do capitulo possa ser compreendida como meramente uma personificação da "sabedoria", com vistas a um efeito literário, mostrando a sabedoria a chamar os simples e a convidá-los a aprender, é possível argumentar que os vv. 22-31 dizem coisas sobre a "sabedoria" que parecem ir além da mera personificação. Falando do tempo em que Deus criou a terra, diz a sabedoria: "... então, eu estava com ele e era arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens (Pv 8.30-31). Atuar como "arquiteto" junto de Deus na criação indica em si mesmo a idéia de uma pessoas distinta, e as frases seguintes talvez sejam ainda mais convincentes, pois apenas pessoas reais podem "dia após dia [ser] as suas delícias" e também se alegrar no mundo e se deleitar com os filhos dos homens.
Mas se decidimos que "sabedoria" aqui se refere de fato ao Filho de Deus antes de ele se tornar homem, há uma dificuldade. Os versículos de 22-25 parecem falar da criação dessa pessoa chamada "sabedoria":
O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.
Porventura não indica isso que tal "sabedoria" foi criada?Na verdade, não. A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.
2. A revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento.
Quando começa o Novo Testamento, entramos na história da vinda do Filho de Deus à terra. Era de esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus, e de fato é isso que encontramos. Antes analisar a questão com pormenores, podemos simplesmente listar várias passagens em que as três pessoas da Trindade são mencionadas juntas.
Quando do batismo de Jesus, " ... e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.16-17). Aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da Trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala de lá do céu; Deus Filho é batizado e depois ouve a voz de Deus Pai vinda do céu, e o Espírito Santo desse do céu para pousar sobre Jesus e dar-lhe poder para o seu ministério.
Ao final do seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem ir e fazer "discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Os próprios nomes "Pai" e "Filho", baseados na família e mais comum das instituições humanas, indicam com muita força a distinção das pessoas do Pai e do Filho. E se o "Espírito Santo" é inserido na mesma frase e no mesmo nível das outras duas pessoas. difícil é evitar a conclusão de que o Espírito Santo é também, tido como pessoa e de posição igual ao do Pai e do Filho.
Quando nos damos conta de que os autores do Novo Testamento geralmente usam o nome "Deus" (gr. theos) para se referir a Deus Pai e o nome "Senhor" (gr. Kyrios) para se referir a Deus Filho, fica claro que há outro termo trinitário em 1 Coríntios 12.4-6 "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos."
Igualmente, o último versículo de 2 Coríntios é trinitário na sua expressão: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém." (2 Co 13.13 ou 14). Verificamos também as três pessoas mencionadas separadamente em Efésios 4. 4-6:"Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós."
As três pessoas da Trindade são mencionadas juntas na primeira frase de 1 Pedro: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo..." (1 Pe 1.2). E em Judas 20-21, lemos: "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna."
Todavia, a tradução (dentro de colchetes, significando que o texto em questão não tem apoio dos melhores manuscritos que a ARA dá de 1 Jo 5.7 não deve ser usada com esse fim. Lê-se: "Pois são três os que dão testemunho no céu: O Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e esses três são um".
O problema dessa tradução é que ele se baseia num número muito pequeno de manuscritos gregos pouco confiáveis, sendo o mais antigo desses do século XIV d.C.. As melhores versões não incluem esse trecho, mas o omitem, como o faz a grande maioria dos manuscritos gregos de todas as traduções textuais de monta, inclusive vários manuscritos bastante confiáveis dos séculos IV e C d.C., e também citações dos pais da igreja, como Ireneu (m.c. 212 d.C.), Tertuliano (m. depois de 220d.C.) e o grande defensor da Trindade, Atanásio (m. 373 d.C.).
B. TRÊS DECLARAÇÕES QUE RESUMEM O ENSINO BÍLICO
Em certo sentido a doutrina da trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Podemos, todavia, compreender parte de sua verdade resumindo o ensinamento da Escrituras em três declarações:
1. Deus é três pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Há só um Deus
A seção seguintes desenvolverá mais detalhadamente cada uma dessas declarações.
1. Deus é três pessoas.
O fato de ser Deus três pessoas significa que o Pai não é o Filho; são pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo, mas são pessoas distintas. E significa que o Filho não é o Espírito Santo. Essas distinções se mostram em várias das passagens citadas na seção anterior, bem como em muitas outras passagens do Novo Testamento.
Jo 1.1-2 nos diz: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.". O fato de o "Verbo" (que se revela Cristo nos v. 9-18) estar "com" Deus prova que ele é distinto de Deus Pai. Em João17.24, Jesus fala a Deus Pai da "minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo", revelando assim distinção de pessoas, compartilhamento de glória e uma relação de amor entre o Pai e o Filho antes que o mundo fosse criado.
Lemos que Jesus continua agindo como nosso Sumo Sacerdote e Advogado perante Deus Pai: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 Jo 2.1). Cristo é aquele que "pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles."(Hb 7.25). Porém, a fim de interceder por nós perante Deus Pai, é necessário que Cristo seja um pessoa distinta do Pai.
Além disso, o Pai não é o Espírito, tampouco o Filho é o Espírito Santo. Distinguem-se em vários versículos. Diz Jesus: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26). O Espírito Santo também ora ou "intercede" por nós (Rm 8.27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a quem se faz a intercessão.
Finalmente, o fato de o Filho não ser o espírito Santo também está indicado em várias passagens trinitárias mencionadas anteriormente, como a Grande Comissão (Mt 28.19), e em passagens que indicam que Cristo voltou ao céu e então enviou o Espírito Santo à igreja. Disse Jesus: "Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei." (Jo 16.7).
Alguns já questionaram se o espírito Santo é de fato uma pessoa distinta, e não simplesmente o "poder" ou a "força" de Deus em ação no mundo. Mas as evidências do Novo Testamento são bem claras e fortes. Primeiro há os diversos versículos mencionados acima, em que o Espírito Santo é revelado em coordenada relação com o Pai e o Filho ( Mt 28.19; 2 Co 12.4-6; 2 Co 13.13ou14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2): como o Pai e o Filho são ambos pessoas, a expressão coordenada indica fortemente que o Espírito Santo também é uma pessoa. Depois há trechos em que o pronome masculino ele(gr. ekeinos) se refere ao Espírito Santo (Jp 14.26; 15.26; 16.13-14), o que não seria de esperar em face das regras da gramática grega, pois a palavra "espírito"(gr. pneuma) é neutra, não masculina, e a ela normalmente se alude com o pronome neutro ekeino. Além do mais, o nome consolador ou confortador (gr. parakeltos) é um termo comumente usado para falar de uma pessoa que ajuda ou dá consolo ou conselho a outra pessoa ou pessoas, mas se refere ao Espírito Santo no evangelho de João (Jo 14.16, 26; 15.23; 16.7).
Outras atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo, como ensinar (Jo 14.26), dar testemunho (Jo 15.26; Rm 8.16), interceder ou orar em nome de outros (Rm 8.26-27), sondar as profundezas de Deus (1 Co 2.10), conhecer os pensamentos de Deus (2 Co 2.11), decidir conceder dons para alguns, e outros para outros (1 Co 12.11), proibir ou não permitir determinadas atividades (At 16.6-7), falar (At 8.29; 13.2; e muitas vezes no Antigo como no Novo Testamento), avaliar e aprovar um proceder sábio (At15.28) e se entristecer diante do pecado dos cristãos (Ef 4.30).
Por fim, se o Espírito Santo é interpretado meramente como o poder de Deus, e não como pessoa distinta, então várias passagens simplesmente não fariam sentido, pois nelas se mencionam tanto o Espírito Santo quanto o seu poder, ou o poder de Deus. Por exemplo, Lucas 4.14 ("Então, Jesus, no poder, regressou para Galiléia") significaria então "Jesus, no poder do poder, regressou para a Galiléia". E atos 10.38 ("Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder") significaria "Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com poder" (ver também Rm 15.13; 1 Co 2.4).
Embora tantas passagens distingam claramente o Espírito Santo dos outros membros da Trindade, 2 Coríntios 3.17 se revela um versículo desconcertante: "Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.". Os interpretes muitas vezes supõem que "Senhor" aqui só pode ser Cristo, pois Paulo usa freqüentemente "Senhor" para referir a Cristo. Mas provavelmente não é esse o caso aqui, pois a gramática e o contexto nos fornecem bons argumentos para dizer que esse versículo tem melhor tradução com o Espírito Santo o sujeito: "Ora, o Espírito é o Senhor ...". Nesse caso, Paulo estaria dizendo que o Espírito Santo é também "Jave" (ou "Jeová), o Senhor do Antigo Testamento (repare o claro pano de fundo do Antigo Testamento que se revela nesse contexto, a partir do v. 7). Teologicamente, isso seria aceitável, pois sem dúvida se pode dizer qua assem como Deus Pai é "Senhor" e Deus Filho é "Senhor" (no pleno sentido de "Senhor" no Antigo Testamento como nome de Deus), também o Espírito Santo é chamado "Senhor" no Antigo Testamento - e é o Espírito Santo que nos manifesta especialmente a presença do Senhor na era da nova aliança.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
Além do fato de serem as três pessoas distintas as Escrituras dão farto testemunho de cada pessoa é plenamente Deus.
Primeiro, Deus Pai é claramente Deus. Isso se evidencia desde o primeiro versículo da Bíblia no qual Deus cria o céu e a terra. É evidente em todo o Antigo e Novo Testamento, no quais Deus Pai é retratado nitidamente como Senhor soberano de tudo e onde Jesus orar ao seu Pai celeste.
Também, o Filho é plenamente Deus. Embora esse ponto seja desenvolvido com mais por menores no capítulo 26 [da Teologia Sistemática deste autor, donde tiramos este estudo] ("A Pessoa de Cristo"), podemos aqui mencionar de passagem vários trechos explícitos. João 1.1-4 afirma claramente a plena divindade de Cristo:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
Aqui, Cristo é o "Verbo", e João diz que ele estava "com Deus" e também que ele "era Deus". O texto grego repete as palavras iniciais de Gênesis 1.1 ("No princípio...") e nos lembra de que João está falando de algo que já era verdade antes que o mundo fosse criado. Deus Filho sempre foi plenamente Deus.
A tradução "o Verbo era Deus" foi contestada pelas testemunhas-de-jeová, que vertem "o Verbo era um deus", implicando que o Verbo era simplesmente um ser celestial, mas não plenamente divino. Eles justificam essa tradução salientando que o artigo definido (gr. ho, "o") não aparece antes da palavra grega theos ("Deus). Dizendo que theos deve ser traduzido como "um deus". Porém, tal interpretação nunca foi acatada por nenhum estudioso grego de lugar algum, pois é sabido que a frase segue uma regra normal da gramática grega, e ausência do artigo definido indica meramente que "Deus" é o predicado, e não o sujeito da frase. (Uma publicação recente das testemunhas-de-jeová reconhece hoje essa relevante gramatical, mas assim mesmo persiste na sua posição a respeito de João 1.1).
A incoerência da posição das testemunhas-de-jeová pode ser vista na tradução que dão ao restante do capítulo. Por diversas outras razões gramaticais, a palavra theos também dispensa o artigo definido em outros pontos do capítulo, como no versículo 6 (Houve um homem enviado por Deus"), no versículo 12 ("poder de serem feitos filhos de Deus"), no versículo 13 ("mas de Deus") e no versículo 18 ("Ninguém jamais viu a Deus"). Se as testemunhas-de-jeová fossem coerentes no seu argumento sobre a ausências do artigo definido, teriam de traduzir todos esses versículos com a expressão "um deus",mas usaram "Deus" em todos eles.
João 20.28, no seu contexto, também é uma sólida prova em favor da divindade de Cristo. Tomé duvidava do relatos dos outros discípulos, de que haviam visto Jesus ressuscitado, e disse que não acreditaria se não visse as marcas dos cravos nas mãos de Jesus e não lhe tocasse com a mão na ferida do lado (jo 20.25). Então Jesus apareceu novamente aos discípulos, estando agora Tomé com eles. Disse a Tomé: "Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe no me lado; não seja incrédulo, mas crente"" (Jo 20.28). Aqui Tomé chama Jesus de "Deus meu". A narrativa mostra que tanto João no modo com escreveu o seu evangelho quanto o próprio Jesus aprovam o que Tomé disse e incentivam todos os que ouvirem falar de Tomé a crer nas mesmas coisas em que Tomé creu. Jesus imediatamente disse a Tomé: "Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20.29). Quanto a João, esse é o momento dramático mais forte do evangelho, pois ele logo a seguir diz ao leitor - já no versículo seguinte - que esta é a razão pela qual ele o escreveu:
"Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. "(Jo 20.30-31)
Jesus fala daqueles que, mesmo sem o ver crerão, e João logo diz ao leitor que ele registrou os acontecimentos no evangelho para que todos também creiam assim, imitando Tomé na sua confissão de fé. Em outras palavras, todo o evangelho foi escrito para convencer as pessoas a imitar Tomé, que sinceramente chamou Jesus de "Senhor meu e Deus meu". Como esse é o motivo exposto por João como propósito do seu evangelho, a afirmação se reveste de autoridade.
Outras passagens afirmam a plena divindade de Jesus, como Hebreus 1, onde diz que Cristo é a "expressão exata" (gr. charakter, "reprodução exata") da natureza ou ser (gr. hypostasis) de Deus - significando que Deus Filho reproduzia o ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os tem. O autor ainda se refere ao Filho como "Deus" no versículo 8 ("Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre") e atribui a criação dos céus a Cristo ao dizer dele: "No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos" (Hb 1.10; citando Sl 102.25). Tito 2.13 refere-se ao "nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" e 2 Pedro 1.1 fala da "justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo". Romanos 9.5, falando do povo judeu, diz: "Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém" (NVI).
No Antigo Testamento, Isaías 9.6 profetiza:
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte ...
Aplicando a Cristo, essa profecia refere-se a ele como "Deus Forte". Observe aplicação semelhante dos títulos "Senhor" e "Deus" na profecias da vinda do Messias em Isaías 40.3: "Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus", citada por João Batista na preparação para vinda de Cristo em Mateus 3.3.
Muitas outras passagens serão discutidas no capítulos 26, [da Teologia Sistemática deste autor], abaixo, mas essas já devem ser suficientes para demonstrar que o Novo Testamento claramente se refere a Cristo como Deus pleno. Como diz Paulo em Colossenses 2.9, "Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade."
Além disso, O Espírito Santo é também plenamente Deus. Uma vez que entendemos que Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em versículos com Mateus 28.19 ("batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo") se revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. Isso se verifica quando percebemos quão impensável seria que Jesus dissesse algo como "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do arcanjo Miguel", dando a um ser criado uma posição totalmente descabida, mesmo para um arcanjo. Os crentes de todas as épocas sempre foram batizados em nome (assumindo, portanto, o caráter) do próprio Deus. (Note também as outras passagens trinitárias mencionadas acima: 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2; Jd 20-21.)
Em atos 5.3-4, Pedro pergunta a Ananias: "Por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo [...]? Não mentiste aos homens, mas a Deus". Segundo as palavras de Pedro, mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus. Paulo diz em 1 Coríntios 3.16: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" O templo de Deus é o local onde o próprio Deus habita, o que Paulo explica pelo fato de que o "Espírito de Deus" ali habita, aparentemente igualando o Espírito de Deus ao próprio Deus.
Davi pergunta em Salmos 139.7-8: "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também." Essa passagem atribui a características divina da onipresença ao Espírito Santo, algo que não se aplica a nenhuma das criaturas de Deus. Parece que Davi faz equivaler o Espírito de Deus à presença de Deus. Ausentar-se do Espírito de Deus é ausentar-se da sua presença, mas se não há lugar para onde Davi pode fugir do Espírito de Deus, então ele sabe que aonde quer que vá terá de dizer: "Tu estás aí".
Paulo atribui a característica divina da onisciência ao Espírito Santo em 1 Coríntios 2.10-11: "Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus [ou os pensamentos de Deus], ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.".
Além disso, o ato de dar novo nascimento a todo aquele que nasce de novo é obra do Espírito Santo. Disse Jesus:"... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (Jo 3.5-7). Mas o ato de dar nova vida espiritual às pessoas quando se tornam cristãs é algo que só Deus pode fazer (cf. 1 Jo 3.9, "nascido de Deus"). Essa passagem portanto dá nova indicação de que o Espírito Santo é plenamente Deus.
Até aqui temos duas conclusões, ambas fartamente ensinadas em toda a Bíblia:
1. Deus é três pessoas.2. Cada pessoa é plenamente Deus.
Se a Bíblia ensinasse somente esses dois fatos, não haveria nenhuma dificuldade lógica em emparelhá-los, pois a solução óbvia seria que existem três Deuses. O Pai é plenamente Deus, o Filho é plenamente Deus e o Espírito santo é também plenamente Deus.Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos. Tal crença se chamaria politeísmo - ou, mais especificamente, "triteísmo", ou crença em três Deuses. Mas isso passa bem longe do que ensina a Bíblia.
3. Só há um Deus.
As Escrituras deixam bem claro que só existe um único Deus. As três diferentes pessoas da Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser. Não existem três Deuses. Só existe um Deus.
Uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento é Deuteronômio 6.4-5: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças."
Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas? (Ex 15.11),
a resposta obviamente é: "ninguém. Deus é único, e não há ninguém como ele nem pode haver ninguém como ele. De fato, Salomão ora "para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro." (1 Rs 8.60).
Quando Deus fala, repetidamente deixa claro que ele é o único Deus verdadeiro; a idéia de que existem três Deuses a adorar, e não um só, seria impensável diante de declarações tão veementes. Só Deus é o únicos Deus verdadeiro, e não há nenhum outro como ele. Quando ele fala, só ele fala - não fala como um Deus dentre três que devem ser adorados. Mas diz:
Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6).
Do mesmo modo, ele convoca toda a terra a olhar para ele:
Não há outro Deus, senão eu,Deus justo e Salvadornão há além de mim.
Olhai para mim e sede salvos,vós, todos os limites da terra;porque eu sou Deus, e não há outro (Is 45.21-22; cf. 44.6-8).
O Novo Testamento também afirma que só há um Deus. Escreva Paulo: "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem." (1 Tm 2.5). Paulo afirma que "Deus é um só" (Rm 3.30) e que "há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos" (1 Co 8.6). Por fim, Tiago admite que até os demônios reconhecem que só há um Deus, ainda que essa aceitação intelectual do fato não seja suficiente para salvá-los: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem." (Tg 2.19). Mas nitidamente Tiago afirma que "faz bem" quem crê que "Deus é um só".
4. As soluções simplistas necessariamente neguam um dos ensinamentos bíblicos.
Agora temos três proposições, todas elas ensinadas nas Escrituras.
1. Deus é três pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Só há um Deus.
Ao longo de toda a história da igreja houve tentativas de encontrar uma solução simples para doutrina da Trindade pela negação de uma ou outra dessa proposições. Caso se negue a primeira proposição [1. Deus é três pessoas.], então resta-nos simplesmente o fato de que cada uma das pessoas mencionadas nas Escrituras (Pai, Filho e Espírito Santo) é Deus, e há um só Deus. Mas se não precisamos dizer que são pessoas distintas, então há uma solução fácil: não passam de nomes diferentes para uma pessoa que age de modos diversos em situações distintas. Às vezes essa pessoa se chama Pai, às vezes se chama Filho, às vezes se chama Espírito. Não temos dificuldade para compreender isso, pois sabemos por experiência própria que a mesma pessoa pode agir em dada situação como advogado (por exemplo), noutra como pai dos seus filhos e noutra como filho diante dos seus pais; a mesma pessoa é advogado, pai e filho. Mas tal solução negaria o fato de que as três pessoas sejam indivíduos distintos, de que Deus Pai envia Deus Filho ao mundo, de que o Filho ora ao Pai e de que o Espírito santo intercede junto ao Pai por nós.
Outra solução simples surge pela negação da segunda proposição [2. Cada pessoa é plenamente Deus.], ou seja, negar que algumas das pessoas mencionadas nas Escrituras são de fato plenamente Deus. Se simplesmente sustentamos que Deus é três pessoas e que só há um Deus, então podemos ser tentados a dizer que algumas dessas "pessoas" desse Deus único não são plenamente Deus, mas apenas partes subordinadas ou criadas de Deus. Essa solução seria adorada, por exemplo, por aqueles que negam a plena divindade do Filho (e do Espírito Santo). Mas, como vimos acima, essa solução teria de negar toda uma classe de ensinamentos bíblicos.
Por fim, como já observamos acima, uma solução simples poderia vir pela negação da existência de um só Deus. Mas isso resultaria na crença em três Deus, algo claramente contrário às Escrituras.
Embora o terceiro erro não seja comum, como veremos abaixo, cada um dos dois primeiros erros já apareceu num momento ou noutro da história da igreja, e ainda persiste hoje dentro de alguns grupos.
5. Todas as analogias têm falhas.
Se não podemos adotar nenhuma dessas soluções simplistas, então como juntar as três verdade bíblicas para assim sustentar a doutrina da Trindade? As pessoas já usaram várias analogias retiradas da natureza ou da experiência humana para tentar explicar essa doutrina. Embora tais analogia sejam úteis num nível elementar de compreensão, todas elas se revelam inadequadas ou ilusórias numa reflexão mais aprofundada. Dizer, por exemplo,que Deus é como um trevo de três folhas, que mesmo tendo três partes é apenas um trevo, não é satisfatório, pois cada folha apenas faz parte do trevo, e não se pode dizer que nenhuma das folhas é todo o trevo. Mas na Trindade, cada uma das pessoas não é apenas uma parte separada de Deus, mas plenamente Deus. Além disso, a folha de um trevo é impessoal e não tem portanto personalidade distinta e complexa como cada pessoa da Trindade.
Outros já usaram a analogia das três partes de uma árvore: raiz, tronco e ramos constituem uma só arvore. Mas surge um problema semelhante, pois trata-se somente de partes de uma árvore, e não se pode dizer que nenhuma dessas partes é a árvore inteira. Além do mais, nessa analogia as partes têm propriedade distintas, diferentemente das pessoas da Trindade, que possuem todos os atributos de Deus em igual medida. E a ausência de personalidade em cada uma das partes é outra deficiência.
A analogia das três formas de água (vapor, água e gelo) é também inadequada, porque: (a) nenhuma quantidade de água jamais é ao mesmo tempo todas as três formas, (b) as três formas têm propriedades ou características diferentes, (c) a analogia nada tem que corresponda ao fato de existir somente um Deus (mas existe algo como "uma só água" ou "toda a água do universo") e (d) falta o elemento da personalidade inteligente.
Outras analogias foram derivadas da experiência humana. Poder-se-ia dizer que a Trindade é como um homem que é ao mesmo tempo fazendeiro, prefeito da sua cidade e presbítero da sua igreja. Ele desempenha papéis diferentes em momentos distintos, mas é um só homem. Porém, essa analogia é bastante falha, pois só uma pessoa executa essas três atividades em momento diferentes, e o modalismo não contempla a relação pessoal entre os membros da Trindade. (Na verdade, essa analogia simples ensina a heresia chamada modalismo, discutida abaixo.)
Outras analogia retirada da vida humana é a união entre intelecto, emoções e vontade numa pessoa. Embora sejam componentes de uma personalidade, nenhum desses fatores constitui a pessoa inteira. E as partes não são de características idênticas, mas têm capacidades distintas.
Então que analogia usaremos para explicar a Trindade? Embora a Bíblia use muitas analogias derivadas da natureza e da vida para nos ensinar aspectos diversos do caráter de Deus (Deus é como uma rocha na sua fidelidade, como um pastor no seu cuidado, etc.), é interessante notar que nenhum trecho das Escrituras se acha alguma analogia que explique a doutrina da Trindade. O mais próximo que chegamos de uma analogia se encontra nos próprios títulos "Pai" e "Filho", títulos que nitidamente dizem respeito a pessoas distintas e à íntima relação que existe entre os dois numa família. Mas no plano humano, logicamente, temos dois seres totalmente distintos, nenhum deles formado de três pessoas distintas. É melhor concluir que nenhuma analogia explica adequadamente a Trindase, que todas são ilusórias em aspectos importantes.
6
. Deus existe eterna e necessariamente como Trindade.
Quando o universo foi criado, Deus Pai proferiu as potentes palavras criadoras que o gerarem; Deus Filho foi o agente divino que executou essas palavras (Jo 1.3; 1 Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2) e o Espírito de Deus "pairava por sobre as águas" (Gn 1.2). Então é como seria de esperar: se os três membros da Trindade são iguais e plenamente divinos, então todos eles existiram desde a eternidade, e Deus sempre existiu eternamente como Trindade (cf. também Jo 17.5,24). Além disso, Deus não pode ser diferente do que é, pois é imutável. Portanto, parece correto concluir que Deus existe necessariamente como Trindade - não pode ser diferente do que é.

Autor: Wayne GrudemFonte: Capítulo 14 da Teologia do autor

Leia Mais...

O desenvolvimento Histórico da doutrina da Trindade

O desenvolvimento Histórico da doutrina da Trindade
Introdução
A doutrina da Trindade é essencial ao Cristianismo bíblico, ela descreve o relacionamento existente entre os três membros da Divindade de um modo consistente com a Escritura.
É fundamental nessa doutrina a questão de como Deus pode ser do mesmo tempo um e três. Os primeiros cristãos não queriam perder o seu monoteísmo judaico enquanto exaltavam o seu Salvador. Surgiram heresias quanto às pessoas procuraram explicar o Deus cristão sem se tornarem triteístas (como os judeus rapidamente os acusaram de ser). Os cristãos argumentaram que o monoteísmo judaico do Antigo Testamento não excluía a Trindade.
O Clímax da formulação trinitária ocorreu no Concílio de Constantinopla, em 381 d. C.. Devemos a esse concílio a expressão do conceito ortodoxo da Trindade. Todavia, para apreciarmos o que disse o concílio é útil acompanharmos o desenvolvimento histórico da doutrina. Isso não significa que a igreja ou qualquer concílio tenha inventado a doutrina. Antes, foi para responder às heresias que a igreja explicou o que as Escrituras já pressupunha.
A Igreja a Pré-Nicena: 33-325 d.C.
Os Apóstolos, 33-100 d.C.
O ensino apostólico claramente aceitou a plena e real divindade de Deus, e aceitou e adotou a fórmula batismal trinitária.
Os Pais Apostólicos, 100-150 d. C.
Os escritos dos Pais Apostólicos eram caracterizados por uma paixão acerca de Cristo (Cristo provém de Deus; ele é pré-existente) e por ambigüidade teológica acerca da Trindade.
Os Apologistas e os Polemistas, 150 - 325 d. C.
As crescentes perseguições e heresias forçaram os escritores cristãos a declararem de maneira mais precisa e defenderem o ensino bíblico acerca do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Justino Mártir: Cristo é distinto do Pai em sua função.
Antenágoras: Cristo não teve principio.
Teófilo: O Espírito Santo é distinto do Logos.
Orígenes: O Espírito Santo é co-eterno com o Pai e o Filho.
Tertuliano: Falou em "Trindade" e "pessoa" - Três em número, mas um em substância.
Concílio de Nicéia: 325 d.C.
Por causa da difusão da heresia ariana, que negava a divindade de Cristo, a unidade e até mesmo o futuro do Império Romano parecia incertos. Constantino, recentemente convertido, reuniu um concílio ecumênico em Nicéia para resolver a questão.
A Questão: Cristo era plenamente Deus, ou era um ser criado e subordinado?
Ário
Somente Deus Pai é eterno.
O Filho teve um princípio como o primeiro e mais importante ser criado.
O Filho não é um em essência com o Pai.
Cristo é subordinado ao Pai.
Ele é chamado Deus como um título honorífico.
Atanásio
Cristo é co-eterno com o Pai.
Cristo não teve princípio.
O Filho e do Pai têm a mesma essência.
Cristo não é subordinado ao Pai.
Declarações Fundamentais do Credo do Concílio
[Nós cremos] “em um Senhor Jesus Cristo... verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, não feito, de uma só substância com o Pai”.“Mas aqueles que dizem que houve um tempo em que Ele não existe, e que antes de ser gerado Ele não era ... a este a Igreja Católica anatematiza.”“E cremos no Espírito Santo”.
Resultado do Concílio
O arianismo foi formalmente condenado.A declaração homoousia (mesma substância) criou conflitos.Os arianos reinterpretaram homoousia e acusaram o concílio de monarquianismo modalista.A doutrina do Espírito Santo ficou sem ser elaborada.
Concílio de Constantinopla: 381 d. C.
O arianismo não foi extinto em Nicéia; na realidade, ele cresceu em importância. Além disso, surgiu o macedonianismo, que subordinava o Espírito Santo essencialmente da mesma maneira que o arianismo havia subordinado Cristo.
A Questão: O Espírito Santo é plenamente Deus?
Declarações Fundamentais do Credo do Concílio
“... e no Espírito Santo, o Senhor e doador da vida, que procede do Pai, que é adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho.”
Resultado do Concílio
O arianismo foi rejeitado e o Credo Niceno reafirmado.O macedonianismo foi condenado e a divindade do Espírito Santo afirmada.Foram resolvidos grandes conflitos acerca do trinitarianismo (embora os debates cristológicos tenham continuado até Calcedônia, em 451. d. C.)
Autor: H. Wayne HouseFonte: Teologia Cristã em Quadros, pd. 58,
Segue abaixo Credos.

Credo de Nicéia(325 a.d. - revisado em Constantinopla em 381 a.d.)
Cremos em um só Deus, Pai, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. E na Igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.
Credo de Calcedônia(451 a.d.)
Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.

Leia Mais...

Provas Bíblicas da Doutrina da Trindade

Provas Bíblicas da Doutrina da Trindade
A doutrina da Trindade depende decisivamente da revelação. É verdade que a razão humana pode sugerir algumas idéias para consubstanciar a doutrina, e que os homens, fundados em bases puramente idéias para consubstanciar a doutrina, e que os homens, fundados em bases puramente filosóficas, por vezes abandonaram a idéia de uma unidade nua e crua em Deus, e apresentaram a idéia de movimento vivo e de auto-distinção. Também é verdade que a experiência cristã parece exigir algo parecido com esta construção da doutrina de Deus. Ao mesmo tempo, é uma doutrina que não teríamos conhecido, nem teríamos sido capazes de sustentar com algum grau de confiança, somente com base na experiência, e que foi trazida ao nosso conhecimento unicamente pela auto-revelação especial de Deus. Portanto, é da máxima importância reunir suas provas escriturísticas.

a. Provas do Velho Testamento.

Alguns dos primeiros pais da igreja, assim chamados, e mesmo alguns teólogos mais recentes, desconsiderando o caráter progressivo da revelação de Deus, opinaram que a doutrina da Trindade foi revelada completamente no Velho Testamento. Por outro lado, os socinianos e os arminianos eram de opinião que não há nada desta doutrina ali. Tanto aqueles como estes estavam enganados. O velho Testamento não contém plena revelação da existência trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. É exatamente isto que se poderia esperar. A Bíblia nunca trata da doutrina da Trindade como uma verdade abstrata, mas revela a subsistência trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva, em certa medida em conexão com as obras da criação e da providência, mas particularmente em relação. Sua revelação mais fundamental é revelação da com fatos, antes de com palavras. E esta revelação vai tendo clareza, na medida em que a obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na encarnação do Filho e no derramamento do Espírito. E quanto mais a gloriosa realidade da Trindade é exposta nos fatos da história, mais claras vão sendo as afirmações da doutrina. Deve-se a mais completa revelação da Trindade no Novo Testamento ao fato de que o Verbo se fez carne, e que o Espírito Santo fez da igreja Sua habitação.
Têm-se visto, por vezes, provas da Trindade na distinção entre Jeová e Elohim, e também no plural Elohim, mas a primeira não tem nenhum fundamento, e a última é, para dizer o mínimo, duvidosa, embora ainda defendida por Rottenberg, em sua obra sobre De Triniteit in Israels Godsbegrip[P; 19s.]. É muito mais plausível entender que as passagens em que Deus fala de Si mesmo no plural, Gn 1.26; 11.7, contêm uma indicação de distinções pessoais em Deus, conquanto não sugiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas. Indicações mais claras dessas distinções acham-se nas passagens que se refere ao Anjo de Jeová que, por um lado, é identificado com Jeová e, por outro, distingue-se dele. Ver Gn 16.7-13; 18.1-21; 19.1-28; Ml 3.1. E também nas passagens em que a Palavra e a Sabedoria de Deus são personificadas, Sl 33.4, 6; Pc 8.12-31. Em alguns casos mencionam-se mais de uma pessoa, Sl 33.6; 45.6,7 (comp. Hb 1.8,9), e noutros quem fala é Deus, que menciona o Messias e o Espírito, ou quem fala é o Messias, que menciona o Messias e o Espírito, ou quem fala é o Messias, que menciona Deus e o Espírito, Is 48.16; 61.1; 63.9,10. Assim, o Velho Testamento contém clara antecipação da revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento.

b. Provas do Novo Testamento.

O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da Divindade. Se no Velho Testamento Jeová é apresentado como o Redentor e Salvador do Seu povo, Jó 19.25; Sl 19.14; 78.35; 106.21; Is 41.14; 43.3,11,14; 47.7,26; 60.16; Jr 14.3; 50.14; Os 13.3, no Novo Testamento o Filho de Deus distingue-se nessa capacidade, Mt 1.21; Lc 1.76-79; 2.17; Jo 4.42; At 5.3; Gl 3.13; 4.5; Fp 3.30; Tt 2.13, 14. E se no Velho Testamento é Jeová que habita em Israel e no corações do que O temem, Sl 74.2; 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9; Jl 3.17, 21; Zc 2.10,11, no Novo Testamento é o Espírito Santo que habita na igreja, At 2.4; Rm 8.9,11; 1 Co 3.16; Gl 4.6; Ef 2.22; Tg 4.5. O Novo Testamento oferece clara revelação de Deus enviado Seu Filho ao mundo, Jo 3.16; Gl 4.4; Hb 1.6; 1 Jo 4.9; e do Pai e o Filho enviando o Espírito, Jo 14.26; 15.26; 16.7; Gl 4.6. Vemos o Pai dirigindo-se ao Filho, Mc 1.11; Lc 3.22, o Filho comunicando-se com o Pau, Mt 11.25,26; 26.39; Jo 11.41; 12.27,28, e o Espírito Santo orando a Deus nos corações dos crentes, Rm 8.26. Assim, as pessoas da Trindade, separadas, são expostas com clareza às nossas mentes. No batismo do Filho, o Pai fala, ouvindo-se do céu a Sua voz, e o Espírito Santo desce na forma de pomba, Mt 3.16,17. Na grande comissão Jesus menciona as três pessoas: "...batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", Mt 28.19. Também são mencionadas juntamente em 1 Co 12. 4-6; 2 Co 13.13; e 1 Pe 1.2. A única passagem que fala de tri-unidade é 1.Jo 5.7, mas sua genuinidade é duvidosa, razão pela qual foi eliminada das mais recentes edições críticas do Novo Testamento.

Autor: Louis Berkhof Fonte: Teologia Sistemática do autor

Leia Mais...

Um e Três: Trindade


Um e Três: Trindade

Isaías 44:6: “Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus”.

O Antigo Testamento insiste constantemente na afirmação de que há somente um Deus, o Criador que se revela a si mesmo, que deve ser cultuado e louvado com exclusividade (Dt 6.4-5; Is 44.6–45.25). O Novo Testamento concorda (Mc 12.29-30; 1Co 8.4; Ef 4.6; 1Tm 2.5), mas fala de três agentes pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo, que operam juntos para realizar a salvação (Rm 8; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14; 1Pe 1.2). A formulação histórica da Trindade (do latim trinitas , que significa “estado de ser três”) não é uma tentativa de explicá-la, propósito que estaria além da nossa capacidade. Apenas oferece limite e salvaguarda aos nossos pensamentos a respeito desse mistério, que nos confronta, talvez, com o mais difícil pensamento que a mente humana pode elaborar. Não é fácil de entender, mas é verdadeiro.

A doutrina surge dos fatos históricos da redenção registrados e explicados no Novo Testamento, Jesus orou a seu Pai e ensinou a seus discípulos a fazerem o mesmo. Contudo, Jesus os convenceu de que era pessoalmente divino. Crer na sua divindade e no seu direito de receber culto e orações é básico para a fé no Novo Testamento (Jo 20.28-31; conforme 1.1-18; At 7.59; Rm 9.5; 10.9-13; 2Co 12.7-9; Fp 2.5-6; Cl 1.15-17; 2.9; Hb 1.1-12; 1Pe 3.15). Jesus prometeu enviar outro “Consolador” ou “Parácleto” (do grego; ver nota no texto de Jo 14.16, [abaixo]), para continuar sua obra como primeiro Ajudador (Jo 14.16-17). Um “Parácleto” é um advogado, ajudador, aliado e sustentador (Jo 14.26; 15.26-27; 16.7-15). O Ajudador prometido é o Espírito Santo, que desceu no pentecostes para cumprir o seu Ministério. Desde o início, ele foi reconhecido como a terceira Pessoa divina; mentir a ele – disse Pedro não muito depois do Pentecoste – é mentir a Deus (At 5.3-4).

Cristo prescreveu o batismo “em nome (singular: um Deus, um nome) do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” – três Pessoas que são um único Deus a quem os cristãos se dedicam (Mt 28.19). Do mesmo modo, encontramos as três Pessoas no relato do próprio batismo de Jesus; o Pai reconheceu o Filho, e o Espírito mostrou sua presença na vida e ministério do Filho (Mc 1.9-11). A bênção de 2Co 13.14 é trinitariana, como o é a oração por graça e paz do Pai, do Espírito, e de Jesus Cristo, em Ap 1.4-5. João inclui o Espírito entre o Pai e o Filho só porque ele ensina que o Espírito é divino no mesmo sentido em que o Pai e o Filho o são. Estes são alguns dos mais notáveis exemplos do ensino trinitariano no Novo Testamento. Embora a linguagem técnica da teologia posterior não se encontre no Novo Testamento, a fé e o pensamento trinitarianos estão presentes em todas as suas páginas. Nesse sentido, a Trindade, é uma doutrina bíblica.
Basicamente, a doutrina é que a unidade do Deus único é complexa. As três “substâncias” pessoais, como são chamadas, são centros coiguais e coeternos de autoconsciência, sendo cada um um “Eu” em relação aos outros dois, que são “Vós”, cada um possuindo a plena essência divina de Deus, a existência específica que pertence só a Deus. Deus não é uma só pessoa que desempenha três papéis separados; este é o erro denominado “modalismo”; nem são três deuses que apenas parecem ser um por atuarem sempre juntos. Isso é “triteísmo”. O teólogo B. B. Warfield coloca o problema de modo simples: “Quando dizemos estas três coisas – que não há senão um só Deus que o Pai, o Filho e o Espírito, cada um é Deus; que o Pai, o Filho e o Espírito, cada um é uma pessoa distinta – então enunciamos a doutrina da Trindade em sua inteireza”. Isso sumariza o que foi revelado através das palavras e obras de Jesus e é a realidade que subjaz à salvação do Novo Testamento.

Praticamente falando, a doutrina da Trindade exige que demos honra ao igual a cada uma das três Pessoas na unidade do Deus único. Além do mais, conhecer essa doutrina estabelece fé pessoal e enriquece não menos o forte senso de unidade com outros cristãos.

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra

Leia Mais...

A Trindade

A Trindade
Deus é uma trindade de pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai não é a mesma pessoa que o Filho; o Filho não é a mesma pessoa que o Espírito Santo e o Espírito Santo não é a mesma pessoa que o Pai. Eles são pessoas distintas; ainda assim, são todos o mesmo único Deus. Eles estão em perfeita harmonia consistindo de uma única substância. Eles são co-eternos, co-iguais e co-poderosos. Se qualquer deles fosse retirado, então não haveria Deus. Existe, aparentemente, uma separação de algumas funções entre os membros da divindade. Por exemplo: o Pai escolhe quem será salvo (Ef 1:4); o Filho os redime (Ef 1:7); e o Espírito Santo os sela (Ef 1:13). Um ponto que é necessário esclarecer é que Deus não é uma pessoa, o Pai, com Jesus sendo uma criação e o Espírito Santo uma força de Deus (Testemunhas de Jeová). Nem é uma pessoa que adquiriu três formas consecutivas, isto é, o Pai tornou-se o Filho que, depois, tornou-se o Espírito Santo (United Pentecostal). Nem é a Trindade uma associação de três deuses separados (Mormonismo).
O quadro a seguir ajudará você a ver como a doutrina da Trindade originou-se das Escrituras. A lista não é exaustiva, somente ilustrativa. O primeiro passo é estabelecer quantos deuses existem: UM! (Is 43:10; Is 44:6; Is 45:14,18,21,22; Is 46:5,9).
Eu sou o SENHOR e fora de mim não há Deus" (Is 45:5).
A Trindade


Chamado de Deus
Fp 1:2 PAI
Jo 1:1,14; Cl 2:9 FILHO
At 5:3-4 ESPÍRITO SANTO

Criador
Is 64:8; Is 44:24 PAI
Jo 1:3; Cl 1:15-17 FILHO
Jó 33:4; Jó 26:13 ESPÍRITO SANTO

Resurreto
1 Ts 1:10 PAI
Jo 2:19; Jo 10:17 FILHO
Rm 8:11 ESPÍRITO SANTO

Habita em nós
2 Co 6:16 PAI
Cl 1:27 FILHO
Jo 14:17 ESPÍRITO SANTO

Onipresente
1 Re 8:27 PAI
Mt 28:20 FILHO
Sl 139:7-10 ESPÍRITO SANTO

Onipotente
1 Jo 3:20 PAI
Jo 16:30 FILHO
1 Co 2:10-11 ESPÍRITO SANTO

Santifica
1 Ts 5:23 PAI
Hb 2:11 FILHO
1 Pe 1:2 ESPÍRITO SANTO

Dá vida
Gn 2:7 PAI
Jo 1:3; Jo 5:21 FILHO
2 Co 3:6,8 ESPÍRITO SANTO

Tem Comunhão
1 Jo 1:3 PAI
1 Co 1:9 FILHO
2 Co 13:14 ESPÍRITO SANTO

Eterno
Sl 90:2 PAI
Mq 5:1-2 FILHO
Rm 8:11 ESPÍRITO SANTO

Tem Vontade
Lc 22:42 PAI
Lc 22:42 FILHO
1 Co 12:11 ESPÍRITO SANTO

Fala
Mt 3:17 PAI
Lc 5:20; Lc 7:48 FILHO
At 8:29; At 11:12; At 13:2 ESPÍRITO SANTO

Ama
Jo 3:16 PAI
Ef 5:25 FILHO
Rm 15:30 ESPÍRITO SANTO

Sonda os corações
Jr 17:10 PAI
Ap 2:23 FILHO
1 Co 2:10 ESPÍRITO SANTO

Nós lhe pertencemos
Jo 17:9 PAI
Jo 17:6 FILHO
. . . ESPÍRITO SANTO

Salvador
1 Tm 1:1; 1 Tm 2:3; 1 Tm 4:10 PAI
2 Tm 1:10; Tt 1:4; Tt 3:6 FILHO
. . . ESPÍRITO SANTO

Nós o servimos
Mt 4:10 PAI
Cl 3:24 FILHO
. . . ESPÍRITO SANTO

Devemos crer nEle
Jo 14:1 PAI
Jo 14:1 FILHO
. . . ESPÍRITO SANTO

Dá alegria
. . . PAI
Jo 15:11 FILHO
Rm 14:7 ESPÍRITO SANTO

Julga
Jo 8:50 PAI
Jo 5:21,30 FILHO
. . . ESPÍRITO SANTO
Autor : Desconhecido

Leia Mais...

Santidade

Santidade
Deus é a Luz
“Eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo...” Levítico 11.44
Quando a Escritura chama “santo” a Deus, ou a pessoas individuais da Divindade (como ela freqüentemente faz: Lv 11.44,45; Js 24.19; 1 Sm 2.2; Sl 99.9; Is 1.4; 6.3; 41.14,16,20; 57.15; Ez 39.7; Am 4.2; Jo 17.11; At 5.3,4,32; Ap15.4), a palavra significa tudo a respeito de Deus que o coloca separado de nós e faz dele objeto de nossa reverência, adoração e temor. Ela cobre todos os aspectos de sua grandeza transcendente e perfeição moral, e, assim, é um atributo de todos os seus atributos, salientando a “Divindade” de Deus em cada ponto. Cada faceta da natureza de Deus e cada aspecto de seu caráter pode apropriadamente ser chamado santo, precisamente porque Ele o é. A essência do conceito, porém, é a pureza de Deus, que não pode tolerar qualquer forma de pecado (Hc 1.13) e, por isso, impõe aos pecadores a constante auto-contrição em sua presença (Is 6.5).
Justiça, que significa fazer em todas as circunstâncias coisas que são corretas, é uma expressão da santidade de Deus. Deus manifesta sua justiça como legislador e juiz, e também como guardador da promessa e perdoador do pecado. Sua lei moral, que requer conduta que se equipare à sua própria, é “santa, justa e boa” (Rm 7.12). Ele julga justamente, de acordo com o mérito real (Gn 18.25; Sl 7.11; 96.13; At 17.31). Sua “ira”, isto é, sua ativa hostilidade judicial ao pecado, totalmente justa em suas manifestações (Rm 2.5-16), e seus “julgamentos” específicos (castigos eqüitativos) são gloriosos e dignos de louvor (Ap 16.5,7; 19.1-4).
Toda vez que Deus cumpre a promessa de sua aliança, agindo para salvar seu povo, pratica um gesto de “eqüidade”, isto é, justiça (Is 51.5,6; 56.1; 63.1; 1 Jo 1.9).
Quando justifica os pecadores pela fé em Cristo, Ele o faz com base na justiça aplicada, isto é, o castigo de nossos pecados na pessoa de Cristo, nosso substituto; portanto, a forma tomada por sua misericórdia justificadora mostra que Ele é absoluta e totalmente justo (Rm 3.25,26), e nossa própria justificação se revela judicialmente justificada.
Quando João diz que Deus é “luz”, não havendo nele treva alguma, a imagem está afirmando a santa pureza de Deus, o que torna impossível a comunhão entre Ele e o profano intencional, e requer a busca da santidade e retidão de vida como objetivo central do povo cristão (l Jo 1.5-2.1; 2 Co 6.14-7; Hb 12.10-17). A convocação dos crentes, regenerados e perdoados que são, a praticarem uma santidade que se equipare a própria santidade de Deus, e desta forma agradando a Ele, é constante no Novo Testamento, como certamente o foi no Velho Testamento (Dt 30.1-10; Ef 4.1-5.14; 1 Pe 1.13.22). Porque Deus é santo, o povo de Deus deve também ser santo.
Autor: J.I.Packer Fonte: Teologia Concisa

Leia Mais...

A Auto-existência de Deus

A Auto-existência de Deus
"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus." Salmo 90.2
As crianças, às vezes, perguntam: "Quem fez Deus ? " A resposta mais clara é que Deus nunca precisou ser feito, porque sempre existiu. Ele existe de um modo diferente do nosso: nós existimos de uma forma derivada, finita e frágil, mas nosso Criador existe como eterno, auto-sustentado e necessário. Sua existência é necessária no sentido de que não há possibilidade de ele cessar de existir.
A Auto-existência de Deus é uma verdade básica. Na apresentação que faz do "Deus Desconhecido" aos atenienses, Paulo explica que o Criador do mundo "nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais"(Atos 17.23-25).
O Criador tem vida em si mesmo e tira de si mesmo a energia infindável e de nada necessita. A independente auto-existência de Deus é uma verdade claramente afirmada na Bíblia(Ver Salmos 90. 1-4, 102.25-27; Isaías 40.28-31; João 5.26; Apocalipse 4.10).
Na teologia, muitos erros são resultados da suposição de que as condições e limites de nossa própria existência finita se aplicam a Deus. Na vida de fé, podemos também facilmente empobrecer-nos, se alimentarmos uma idéia limitada e pequena a respeito de Deus. A doutrina da auto-existência de Deus é um anteparo e defesa contra esses erros. O princípio de que só Deus existe por si mesmo o distingue de toda criatura e é o fundamento daquilo que pensamos a respeito dele.
Saber que a existência de Deus é independente protege a nossa compreensão a respeito da grandeza dele e, portanto, tem claro valor prático para a nossa saúde espiritual.

Fonte : Bíblia de Estudo de Genebra.

Leia Mais...

A existência Autônoma de Deus

A existência Autônoma de Deus
Deus é auto-existente, isto é, ele tem em Si mesmo a base da Sua existência. às vezes esta idéia é expressa dizendo-se que Ele é a causa sui (a Sua própria causa), mas não se pode considerar exata esta expressão, desde que Deus é o não causado, que existe pela necessidade do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente. O homem, por outro lado, não existe necessariamente, e tem a causa da sua existência fora dele próprio. A idéia da auto-existência de Deus era geralmente expressa pelo termo aseitas(asseidade), significando auto-originado, mas os teólogos reformados em geral o substituíram pela palavra independentia (independência), expressando com ela somente que é independente em Seu Ser, mas também que é independente em tudo mais: em Sua virtudes, decretos, obras, e assim por diante. Pode-se dizer que há um tênue vestígio desta perfeição na criatura, mas isto só pode significar que a criatura, conquanto absolutamente depende, tem sua existência própria e distinta. Mas, naturalmente, longe está de ser auto-existente.
Este atributo de Deus é reconhecido geralmente, e está implícito nas religiões pagãs e no Absoluto da filosofia. Quando se concebe o Absoluto como a base última e auto-existente de todas as coisas, que entra voluntariamente em várias relações com outros seres, pode ser identificado com o Deus da teologia. Como o Deus auto-existente, Ele não só é independente, como também faz tudo depender dele. Esta auto-existência de Deus acha expressão no nome Jeová. É somente como o Ser auto-existente e independente que Deus pode dar a certeza de que permanecerá eternamente o mesmo, com relação ao Seu povo.
Encontram-se indicações adicionais disso na afirmação presente em Jo 5.26, "Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo;"; na declaração de que Ele é independente de todas as coisas e que todas as coisas só existem por meio dele, Sl 94.8s; Is 40.18S; At 7.25; e nas afirmações que implicam que Ele é independente em Seu pensamento, Rm 11.33,34, em Sua vontade, Dn 4.35; Rm 9.19; Ef 1.5; Ap 4.11; e em Seu conselho, Sl 33.11.

Autor: Louis Berkhof

Leia Mais...

A Soberania de Deus:

A Soberania de Deus:
Liberdade e Aspectos do Soberano Poder de Deus
O HOMEM TENDE A NUTRIR posições diferentes sobre o mesmo assunto, dependendo das circunstâncias. Pode, por exemplo, defender a supremacia da lei, até que a tenha quebrado, ou pode sustentar determinados princípios liberais ou conservadores, desde que a família não esteja em jogo etc. À tendência à subjetividade é maior que se imagina ou se estaria dispostos a admitir.

A doutrina da soberania de Deus é facilmente objeto de posicionamentos contraditórios.1 Abordar essa questão parece diminuir nossa autoconfiança e suposta autonomia. Gostamos de alardear nossa liberdade e capacidade de escolha e persuasão, crendo ser melhor deixar esse assunto engavetado. No entanto, quando nos vemos sem recursos e perspectivas favoráveis , sem saber o que fazer, podemos, sem talvez nos dar conta, contentar-nos com uma fé singela no cuidado de Deus, podendo então dizer: “Deus é soberano, ele sabe o que faz,” “Nada acontece por acaso .....” . Calvino captou bem isso: ”Mesmo os santos precisam sentir-se ameaçados por um total colapso das forças humanas, a fim de aprenderem, de suas próprias fraquezas, a depender inteira e unicamente de Deus”.2

Afinal, Deus é ou não soberano? Essa doutrina parece ser uma das mais repudiadas pelo homem natural, e, ao mesmo tempo, é a mais consoladora para os que crêem em Jesus.
Uma das grandes dificuldades dos homens em todos os tempos é deixar Deus ser Deus. Estamos dispostos a fabricar deuses para que possam cobrir as brechas de nossa compreensão, mas quando não, Deus é invocado para justificar crenças, expectativas e, ao mesmo tempo, a falta de fé.

No Antigo Testamento, os judeus insensíveis aos próprios pecados tomaram o aparente silêncio de Deus como aprovação tácita de seus erros; pensavam que o Senhor fosse igual a eles. No entanto, o todo poderoso exporia diante deles seus delitos: “Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te argüirei e porei tudo à vista” (SI 50:20). Aliás, os homens estão dispostos a reconhecer espontaneamente diversas virtudes em Deus, como o amor, graça, perdão, provisão etc. Soberania, jamais.3

A. W. Pink (1886-1952) entende que “negar a soberania de Deus é entrar em um caminho que, seguindo até a sua conclusão lógica, leva a manifesto de ateísmo”.4 A dificuldade está em reconhecer a Deus como o Senhor que reina. A Bíblia, por sua vez, desafia-nos a aprender com ela a respeito de Deus. O nosso Deus, entre tantas perfeições, é soberano. Sem esse atributo, ele não seria Deus.5 No entanto, Jó demonstra a dificuldade dessa compreensão ao indagar: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussurro temos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá? “ (Jó 26:14).

A Liberdade de Deus e do Seu Poder

Um dos aspectos fundamentais da soberania é a independência.
Quando nossa independência depende de algo alheio ao nosso controle, nossa suposta capacidade de decidir livremente está ameaçada ou sofre de limitações que podem ser bastante comprometedoras.

Na realidade, somente em Deus há a autonomia total e absoluta.
Spurgeon (1834-1892) enfatiza corretamente: “Deus é independente de tudo e de todos. Ele age de acordo com Sua própria vontade.
Quando Ele diz: ‘eu farei’, o que quer que diga será feito. Deus é soberano, e Sua vontade, não a vontade do homem, será feita”.6

Deus se apresenta nas escrituras como todo-poderoso (onipotente), com capacidade para fazer todas as coisas conforme sua vontade (SI 115:3; 135:6; Is 46:10; Dn 4:35; Ef 1:11).Entretanto, ele também se mostra coerente com as demais de suas perfeições, ou seja, exercita eu poder em harmonia com todas as perfeições de sua natureza (2Tm 2:13); sua vontade é eticamente determinada . A soberania de Deus se manifesta no fato de ele poder fazer tudo o que faz (poder absoluto). O poder absoluto de Deus envolve o poder ordenado. Ele exerce o poder no cumprimento do que decretou e nas obras da providência. Aliás, essas obras consistem a execução temporal dos decretos eternos de Deus. Contudo, o que ele realiza não serve de limites para seu poder. “Destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”, adverte João Batista aos arrogantes descendentes da carne, mas não da fé de Abraão (Mt 3:9). Contudo, Deus não fez isso. Por quê? Simples: porque não determinou.

Ele tem total domínio sobre seu poder, estando este sob seu controle; caso contrário, Deus deixaria de ser livre. “Ele tem poder sobre seu poder”.7 Assim, o poder de Deus é essencialmente harmônico e compatível com todo seu ser. Por isso, a Bíblia declara que Deus não pode mentir (Nm 23:19; 1Sm 15:29; Tt 1:2; Hb 6:18); negar-se (2Tm 2:13); mudar (Tg 1:17); pecar (Tg 1:13).

Aspectos do Soberano Poder de Deus

O poder de Deus é soberanamente livre. Deus não tem compromisso com terceiros. A onipotência faz parte da sua essência; por isso, para ele, não há impossíveis; apesar de qualquer oposição ele executa seu plano; tudo o que deseja, pode realizar (Mt 19:26; Jó 23:13). No entanto, Deus não precisa exercitar seu poder para ser o que é.8
Liberdade de existência: poder de existência
Quando a Bíblia menciona o poder soberano de Deus, refere-se à sua própria natureza, e não a um estado determinado por fatores externos, tais como dinheiro, fama, prestígio etc. Ele é o próprio Poder. Por isso, manifesta-se poderosamente (SI 62:11). Ele é tão eterno quanto seu poder e sempre foi e sempre será o que é existindo eternamente por si próprio. A Bíblia não tenta explicar a existência de Deus; ela parte do fato consumado de que Deus existe, manifestando seu poder em atos criativos (Gn 1:1).
Liberdade de decisão: poder de determinação
Pelo fato de Deus ser todo poderoso, pode determinar livremente suas ações, o que de fato faz, manifestando tal poder nos seus decretos.9
Deus tem eternamente diante de si uma infinidade de possibilidades de “decisões” sobre todas as coisas; entretanto, ele “decidiu”10 fazer do modo como fez sem influencia de ninguém, porque não necessita de conselhos (Is 40:13-14; Rm 11:33-36). O plano de Deus é sempre o melhor, porque ele sabia e livremente o escolheu!
Liberdade de execução: poder executivo
Deus executa se plano através do seu poder, conforme sua vontade(Mt 8:2; Jr 32:17). Não podemos marcar hora e lugar para ele agir. Deus opera como e quando quer, dentro de suas deliberações. Ele age sempre conforme seu decreto, não dependendo de nenhum meio externo para realizá-lo, a menos que ele assim o determine. Ontologicamente Deus não precisa de nada fora de si mesmo. Ele se basta a si. O Senhor não precisa de meios para executar o que quer.
Contudo, por sua graça, Deus se agencia também através das causas externas para concretizar seu propósito. Por exemplo: ele poderia se quisesse salvar a todos os homens independentemente da Bíblia e da fé em Cristo; essa não é a sua forma ordinária de agir, porque sábia e livremente estabeleceu o critério de salvação, que é sempre pela graça, que opera mediante a fé através da palavra (Rm 10:17; Ef 2:8).
Deus sempre age de forma compatível com sua perfeita justiça. Jesus Cristo se encarnou a fim de que Deus pudesse ser justo e ao mesmo tempo o justificador dos que confiam nele para salvação (Rm 3:26). Ele se tornou justiça, santificação e redenção para os crentes (1Co 1:30). Sem a graça de Deus, amparada no sacrifício de Cristo, ninguém será salvo!
Deus tem poder para executar toda sua deliberação. Ele é o Todo poderoso (Gn 17:1), e nenhum dos seus planos podem ser frustrados (Jó 42:2). Ele determinando, quem o impedirá? A Bíblia é poderosa no cumprimento do que Deus se propôs, por que provém do onipotente (leia Is 14:24-27).
Liberdade de limitação: poder autolimitante
Algumas pessoas raciocinam erroneamente: “Se Deus é Soberano, livre e todo-poderoso, pode, conforme sua vontade, mudar ‘as regras do jogo’, modificando as leis, seus princípios de ação, seus critérios; enfim, alterar o que ele mesmo revelou e fez registrar na sua palavra”. É assim que age o “Soberano” de Thomas Hobbes (1588-1679): “... o soberano de uma república, seja ele uma assembléia ou um homem, não está absolutamente sujeito às leis civis. Pois tendo o poder de fazer ou desfazer as leis, pode, quando lhe apraz, livrar-se desta sujeição revogando as leis que o incomodam e fazendo novas”11 Apesar de não ser apreciável, esse raciocínio é freqüente.
Quem pensa dessa forma, em geral, tem em mente a ação do homem como modelo, tomando-o como parâmetro para uma comparação, como se o “homem fosse à medida de todas as coisas” (esse foi o mesmo equívoco de muitos gregos na antiguidade). A história tem demonstrado que o poder tende a corromper.
Diante disso, surgem algumas questões: Afinal, Deus poderia fazer tudo isso ou não? Ele estaria sujeito a corrupção resultante do mau uso do seu poder? Se esse poder pertencesse a um homem, deveríamos temer. Entretanto, com Deus é diferente. Os homens são tão fracos em sua condição de poderosos que não conseguem controlar seus ímpetos; por isso, agem por paixões as mais variadas, tais como: preconceito, vaidade, ódio, interesse etc. Deus, no entanto, é tão poderoso que estabelece limites para si mesmo! Por isso, quando afirmamos que Deus não mente, não se contradiz, não muda, não peca e não pode salvar fora de Jesus Cristo, não pretendemos estabelecer limites para Deus, mas reconhecer os próprios limites ou critérios que ele declarou a respeito de si em sua relação consigo e com o universo. Esses critérios são decorrentes das suas perfeições, pois se Deus é perfeitamente verdadeiro, justo, fiel, sábio, amoroso, bondoso e santo.
Deus é tão poderoso que trata conosco conforme as perfeições a fim de que pudéssemos confiar nele e proclamar suas virtudes (Mt 3:6; 1Pe 2:9-10). O poder de Deus está sob o controle de sua sábia e santa vontade: “Deus pode fazer tudo o que ele deseja, porém ele não deseja fazer tudo o que pode”12 (Ex 3:14; Nm 23:19; 1Sm 15:29; At 4:12; 2Tm 2:13; Hb 6:18; Tg 1:13,17). A. W. Pink declarou: “Deus é lei para si próprio, de modo que tudo quanto ele faz é justo.” 13
O poder absoluto de Deus não é incoerente com sua essência. A vontade de Deus é santa. Não há propósitos e atitudes contraditórios no Senhor. O soberano poder de Deus somente é limitado pelo absurdo ou pelo autocontraditório e por ações imorais. John M. Frame afirmou: “Deus é padrão para a moralidade humana, assim ele não pode ser menos que perfeito em sua santidade, bondade e retidão.” 14 Ele não pode realizar coisas auto-excludentes, como deixar de ser Deus ou ser diferente de si mesmo. Seu poder é executado em completa harmonia com sua perfeita dignidade; enfim. Com seu caráter sábio e santo. A perfeição da natureza de Deus permeia suas obras. Deste modo, suas promessas sempre serão cumpridas.15 Bavink resumiu bem esse ponto:
A vontade de Deus é idêntica à sua existência, sua sabedoria, sua bondade e a todos seus atributos. [...] Sua soberania é uma soberania de ilimitado poder, porém é também uma soberania de sabedoria e graça. Ele é Rei e Pai ao mesmo tempo.
Autor: Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

Leia Mais...

Amor e Ódio em Deus

Amor e Ódio em Deus
Romanos 9
INTRODUÇÃO

Uma coisa é considerar a profundidade e a riqueza do amor de Deus. Ele é tão amoroso em sua natureza que a Bíblia pode dizer que Deus é amor. Mas outra história, completamente diferente, é contemplar o ódio de Deus. O ódio, pelo menos no que toca ao ódio dirigido contra pessoas, parece uma completa antítese da natureza de Deus. Podemos ficar à vontade com o ditado segundo o qual Deus odeia o pecado, mas ama o pecador, mas consideramos completamente inimaginável que Deus possa odiar tanto o pecado quanto o pecador.
Em Romanos 9, Paulo fala não apenas sobre o amor de Deus por Jacó, mas também sobre o ódio que sentiu por Esaú: "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú" (v. 13).

I. O AMOR INCONDICIONAL

Na verdade, virou moda nos meios evangélicos se falar facilmente sobre o amor incondicional de Deus. Certamente é uma mensagem agradável para as pessoas ouvirem e se adapta a certo estereótipo do que é politicamente correto. No nosso desejo de comunicar a candura do evangelho às pessoas, a presteza de Deus em cobrir nossos pecados com perdão e a incrível profundidade de seu amor exibido na cruz, favorecemos uma expressão exagerada do âmbito e da extensão de seu amor. Onde, nas Escrituras, encontramos essa noção do amor incondicional de Deus? Caso o amor de Deus seja incondicional, por que dizemos às pessoas que elas têm de se arrepender e ter fé para ser salvas? Deus estabelece condições claras para que uma pessoa seja salva. Agora, pode ser verdade, em algum sentido, que Deus ame até mesmo aqueles que não conseguem atender às condições da salvação, mas essa sutileza freqüentemente se perde junto ao ouvinte quando o pregador declara o amor incondicional de Deus.
O conceito bíblico de reconciliação pressupõe uma condição de estranhamento entre Deus e o homem. Em Cristo o obstáculo do estranhamento é superado e nos reconciliamos com Deus. Mas essa reconciliação se estende apenas aos crentes. Aqueles que rejeitam a Cristo permanecem inimigos de Deus, estranhos a Deus e objeto tanto de sua ira quanto de sua abominação. Não importa o tipo de amor que Deus tenha pelos impenitentes, não exclui sua justa raiva e abominação por aqueles que se opõem inflexivelmente a seu redentor.

II. O AMOR PRECEDENTE DE DEUS

A maneira como as Escrituras falam de uma presciência de Deus transmite certo amor prévio por seus eleitos. Isso está expresso na "cadeia de ouro" de Romanos 8: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou" (vs. 28-30).

Romanos 8.28 é um dos textos que mais conforto trazem em toda a Bíblia. Ele assegura ao crente que todas as tragédias são, em última análise, bênçãos. O versículo seguinte fala tanto da presciência quanto da predestinação de Deus. Esse texto é o preferido daqueles que defendem uma visão da predestinação com um conhecimento de antemão. A conclusão que se tira desse versículo é que a predestinação de Deus se baseia no fato de ele conhecer de antemão os eventos futuros. Há sérios problemas com essa visão. Logo mais adiante, Paulo ensina explicitamente que não depende de quem quer. Se a abordagem da presciência for correta, então a eleição depende exatamente de quem quer.

Quando examinamos a "cadeia de ouro" de Romanos 8, vemos que Paulo não só menciona a presciência e a predestinação, mas também o chamamento, a justificação e a glorificação. A ordem literária de Romanos 8 é presciência, predestinação, chamamento, justificação e então glorificação. A declaração no texto é elíptica e está tácito no texto que a letra "a" se refere a todos aqueles na classe mencionada. Desse modo o texto derruba completamente a visão da eleição presciente. Caso o texto queira ensinar a visão presciente da eleição, teria de dizer que alguns dos que Deus conhecia de antemão ele predestinava, e alguns dos que ele chama ele justifica, e alguns dos que ele justifica, ele glorifica. Se a hipótese de "todos" é substituída por "alguns", o resultado não só é confuso, mas todo nosso entendimento da salvação vai por água abaixo.
Quando discutimos a difícil doutrina da predestinação, precisamos ter em mente que nossa eleição é sempre uma eleição em Cristo e para Cristo. Lembre-se de que há uma qualificação bem no meio da "cadeia de ouro":
... aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.29).
A predestinação é expressa aqui com o propósito de ser conforme à imagem de Cristo. Isso é o que acontece em última análise em nossa glorificação. Mas o propósito final é que Cristo seja o primogênito entre muitos irmãos. Isso nos leva de volta ao amor profundo do Pai por seu Filho, que nós somos adotados não só em Cristo, mas por Cristo. Nós somos os presentes que o Pai dá ao Filho.

III. O PRESENTE DO PAI PARA O FILHO

O motivo de os eleitos serem o presente para o Filho é expresso por Jesus em várias ocasiões, particularmente no Evangelho de João:
"a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (6.39,40).
Nessa passagem, Jesus deixa claro que está preocupado com que todo crente seja ressuscitado no último dia. Suas afirmações caracterizam o que o Pai lhe dera que nunca seria perdido. São os crentes que são dados a Cristo pelo Pai e nenhum desses crentes será perdido. Essa, afirmação é baseada no que Jesus declarara momentos antes:
"eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou" (6.36-38).
Jesus é enfático em sua afirmação de que todos aqueles que o Pai lhe dera viriam, de fato, a ele. A ordem aqui é crucial. Jesus não diz que todos os que vierem a ele serão dados a ele pelo Pai. Não determinamos, com nossa resposta, quem será o presente do Pai ao Filho. Ao contrário, nossa resposta é determinada por Deus ter nos escolhido anteriormente para que viéssemos ao Filho como se fôssemos dados a ele.
O conceito de crentes serem dados pelo Pai ao Filho forma um elemento central da oração sacerdotal de Jesus em João 17. Jesus faz repetidas referências a essa "doação". Cristo fala da autoridade que recebeu do Pai para que concedesse vida eterna a algumas pessoas. Essas "algumas pessoas" são aquelas que o Pai lhe deu.
Nessa oração fica claro que os crentes são dados pelo Pai ao Filho, uma dádiva que não deve ser perdida ou destruída. Jesus pede que essas dádivas possam ser mantidas e não descartadas. Ele agradece ao Pai que todos tenham sido mantidos, exceto o filho da perdição, que é descrito em outro ponto como tendo sido um diabo desde o princípio. O filho da perdição a que se refere aqui é Judas.

Os eleitos são dados a Cristo como seus irmãos adotivos e filhos adotivos do Pai. Esse é o surpreendente amor que levaria João a dizer mais tarde: "Vede, que grande amor é esse?".

CONCLUSÃO

O evangelho deve ser anunciado com integridade. Isso significa anunciar o amor de Deus, mas também sua ira contra aqueles que se perdem. O amor de Deus não é incondicional. O conhecimento da predestinação como exposta na Palavra de Deus nos estimula a anunciar as virtudes daquele que nos "chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9).

APLICAÇÃO

Como você vê a responsabilidade da evangelização estando consciente da doutrina da predestinação? Isso o motiva ou desanima? Por quê?

Autor. Marcelo Smeets (Adaptação do capítulo 6 do livro Amados de Deus, de R.C. Sproul)
Leitura Indicada


Rm 8.1 -30
Aos que predestinou

Jo 6.35-51
Que nenhum eu perca

Ef 1 .1- 14
Predestinados para ele

SI 65.1-13
Feliz aquele a quem escolhes

Is 46.1-1 3
Executarei o meu propósito

Mc 13.14-37
Por causa dos eleitos


Ap 17.1-14
Escritos no Livro da Vida


Leia Mais...

Blogroll

© 2008 Por *Templates para Você*