Transcendência - A Natureza de Deus é Espiritual

Transcendência - A Natureza de Deus é Espiritual

Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Is 66.1

“Deus é espírito”, disse Jesus à mulher samaritana junto ao poço (Jo 4.24). Embora plenamente pessoal, Deus não vive em um corpo e por meio dele, como nós, e, por isso, não está ancorado em uma moldura espaço-tempo. Deste fato, além do fato adicional de que Ele é auto-existente e não marcado, como nós somos, pela desintegração pessoal (falta de concentração e controle), que o pecado produziu em nós, várias coisas decorrem.
Primeiro, Deus não é limitado nem pelo espaço (Ele está continuamente em todo lugar em sua plenitude) nem pelo tempo (não há o “momento presente”, no qual Ele esteja contido, como nós estamos). Os teólogos se referem à liberdade limitativa de Deus como sua infinidade, sua imensidade e sua transcendência (1 Rs 8.27; Is 40.12-26; 66.1). Como Ele mantém todas as coisas existentes, assim tem Ele todas as coisas em todos os lugares sempre diante de sua mente, cada qual em sua própria relação com seu plano e propósito totalmente abrangente para todo item e toda pessoa em seu mundo (Dn 4.34,35; Ef 1.11).
Segundo, Deus é imutável. Isto significa que Ele é totalmente consistente: por ser necessariamente perfeito, Ele não pode mudar, seja para melhor ou para pior; e porque não está limitado no tempo, Ele não está sujeito a mudança, como as criaturas (2 Pe 3.8). Longe de estar afastado e imóvel, Ele está sempre ativo em seu mundo, constantemente fazendo novas coisas surgirem (Is 42.9; 2 Co 5.17; Ap 21.5); mas, em tudo isso, Ele expressa seu perfeito caráter com perfeita consistência. É precisamente a imutabilidade de seu caráter que garante sua fidelidade às palavras que tem falado e aos planos que tem feito (Nm 23.19; Sl 33.11; Ml 3.6; Tg 1.16-18); e é essa imutabilidade que explica porque, quando as pessoas mudam sua atitude para com Ele, Ele muda sua atitude para com elas (Gn 6.5-7; Ex 32.9-14; 1 Sm 15.11; Jn 3.10). A idéia de que a invariabilidade de Deus envolve indiferença ao que se passa neste mundo é precisamente o oposto da verdade.
Terceiro, os sentimentos de Deus não estão fora de seu controle, como os nossos freqüentemente estão. Os teólogos expressam isto dizendo que Deus é impassível e insensível, porém aquilo que Ele sente, como o que Ele faz, é uma questão de sua própria escolha deliberada e voluntária e está incluída na unidade de seu ser infinito. Deus jamais é nossa vítima no sentido de que fazemos sofrer naquilo que Ele não tinha previamente escolhido sofrer. Contudo, são abundantes as passagens que expressam a realidade das emoções de Deus (alegria, tristeza, ira, deleite, amor, ódio, etc.), sendo um grande equívoco esquecer que Deus sente – embora em forma de necessidade que transcende a experiência emocional de um ser finito.
Quarto, todos os pensamentos e ações de Deus envolvem todo o seu ser. Esta é a sua integração, às vezes chamada “sua simplicidade”. Ela se coloca em completo contraste com a complexidade e falta de integração de nossa própria existência pessoal, na qual, como resultado do pecado, raramente ou talvez nunca somos capazes de concentrar a totalidade de nosso ser e todos os nossos poderes sobre qualquer coisa. Um aspecto da maravilha de Deus, entretanto, é que Ele simultaneamente dá total e indivisa atenção não apenas a uma coisa de cada vez, mas a todas as coisas e a todas as pessoas em todo lugar em seu mundo passado, presente e futuro (cf. Mt 10.29,30).
Quinto, o Deus que é espírito deve ser adorado em espírito e verdade, como Jesus ensinou (Jo 4.24). “Em espírito” quer dizer “como um coração renovado pelo Espírito Santo”. Nem rituais, movimentos de corpo ou formalidades devocionais constituem adoração, sem o envolvimento do coração, o qual somente o Espírito Santo pode induzir. “Em verdade” significa “com base na revelação da realidade de Deus, que culmina na Palavra encarnada, Jesus Cristo”. Antes de mais nada, esta é a revelação do que somos como pecadores perdidos e do que Deus é para nós como Criador-Redentor pelo ministério mediador de Jesus.
Nenhum lugar sobre a terra é atualmente determinado como único centro para adoração. A habitação simbólica de Deus na Jerusalém terrena foi substituída, quando veio o tempo (Jo 4.23), por sua morada na Jerusalém celestial, de onde Jesus agora ministra (Hb 12.22-24). No Espírito, “perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade”, onde quer que estejam (Sl 145.18; cf. Hb 4.14-16). Esta disponibilidade universal de Deus é parte das boas novas do evangelho; ela é um preciso benefício, e não deve ser apenas considerada superficialmente.

Autor: J. I. Packer

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